Urbanistas alertam para consequências da liberação de construção de 410 mil m² em prédios, já aprovada em 1ª votação pela Câmara
O volume de tráfego na já congestionada região das Avenidas Brigadeiro Faria Lima e Presidente Juscelino Kubitschek, entre Pinheiros e Vila Olímpia,
na zona oeste da capital, deve dobrar nos próximos anos. Segundos
urbanistas, esse é um dos efeitos da construção de mais 410 mil m² em
prédios residenciais e comerciais, aprovada em primeira votação pela Câmara na quinta-feira passada - a segunda votação pode ocorrer ainda neste ano.
Se
o projeto proposto pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD) for aceito, o
perímetro da Operação Urbana Faria Lima pode receber 24 arranha-céus
iguais ao Edifício Altino Arantes, a Torre do Banespa, que fica no
centro de São Paulo. Com base na média de uma vaga de estacionamento a
cada 35 m² de construção - parâmetro utilizado por arquitetos e técnicos
da própria administração municipal -, os novos empreendimentos da área
absorveriam 11.700 veículos.
A quantidade é maior que os atuais
9.600 carros que passam pela Juscelino na hora de maior movimento de
manhã e os 7 mil automóveis que entopem a Faria Lima no horário de pico
da tarde. "É só passar às 18h perto do Shopping Iguatemi para ver que a
região não suporta mais carros. Como vai ficar com os prédios novos?",
pergunta o advogado Heitor Marzagão Tomassini, integrante do Conselho
Gestor da Operação Urbana Faria Lima e presidente do Movimento Defenda
São Paulo.
Para técnicos da Prefeitura e dirigentes de
imobiliárias, a construção de novos edifícios não significa,
necessariamente, mais trânsito. "A região recebeu duas estações de Metrô
(Pinheiros e Faria Lima), o que reduz o trânsito. Além disso, acho que a
área, que até agora foi ocupada por prédios comerciais,
vai receber mais empreendimentos residenciais e as pessoas vão ficar
perto do trabalho", avalia o diretor de legislação urbana do Sindicato
da Habitação (Secovi), Eduardo Della Manna.
"A questão da
mobilidade é constante, um problema difícil de se resolver. Tornar a
cidade mais compacta, com emprego perto de residência, é positivo. Mas
qualquer projeto de adensamento tem de ser acompanhado de um estudo
consistente", argumenta o arquiteto Valter Caldana, diretor da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie. A falta de um levantamento
como esse é um dos questionamentos de Tomassini.
A Prefeitura, por
sua vez, diz que não está criando um novo teto de verticalização, mas
apenas possibilitando que se construa a quantidade de prédios prevista
para a área desde 1995, quando a Operação Urbana Faria Lima foi lançada
por Paulo Maluf. De um total de 1,3 milhão de m² que poderiam ser
construídos no bairro, cerca de 890 mil m² foram utilizados. Para
levantar seus edifícios, as imobiliárias precisam comprar títulos
chamados de Certificados de Potencial Adicional de Construção
(Cepac)."Mesmo que isso já estivesse previsto, acho importante fazer uma
análise para saber o impacto que os novos prédios terão, principalmente
no sistema viário", afirma o dirigente do Defenda São Paulo.
'Não
dá para andar'. Quem trabalha na região, um dos maiores polos
econômicos da cidade, tem opiniões divergentes. "O trânsito vai ficar
ainda pior. Não é à toa que todo prédio tem heliponto. Não dá mais para
andar aqui", diz o consultor financeiro Alécio Ramos de Souza, de 28
anos. Já a gerente executiva Clarissa Ferraz, de 32, acredita que novos
edifícios podem deixar a paisagem mais agradável. "As pessoas acham
solução para o trânsito: táxi, metrô, bicicleta. Mas acho que prédios
são o que fazem daqui um lugar bonito."TIAGO DANTAS
Publicado pelo Jornal da Tarde
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