O mercado imobiliário de alto luxo vem se expandindo no Brasil, com
aumento da demanda no Rio e em São Paulo e crescimento também fora dos
grandes centros, pressionando os preços para cima e gerando valorização
recorde.
No Rio de Janeiro, os preços dos imóveis de alto padrão
no Rio subiram aproximadamente 200% nos últimos cinco anos, enquanto
imóveis de outras categorias tiveram incremento médio de 150% na cidade,
segundo Leonardo Schneider, vice-presidente do Sindicato da Habitação
do Rio (Secovi-Rio).
É na orla de Ipanema e do Leblon que estão
os metros quadrados mais caros do Brasil, estima Luiz Paulo Pompéia,
diretor da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp). Nos
dois bairros, os mais cobiçados do Rio, o metro quadrado de um
apartamento de frente para o mar custa em média R$ 40 mil atualmente,
podendo chegar a R$ 51 mil, de acordo com o Secovi-Rio.
Para
Frederico Judice Araújo, o mercado de alto luxo do Rio está se
beneficiando mais do que a média brasileira em função dos megaeventos
que acontecerão nos próximos anos e dos investimentos em infraestrutura e
segurança que vêm a tiracolo. Ele é membro da família proprietária da
Judice & Araujo,
imobiliária especializada em imóveis do segmento.
"Assim como mercado financeiro antecipa movimentos de empresas para
comprar ações, o mercado imobiliário antecipou o movimento de melhora da
cidade como um todo. O Rio vai melhorar muito para poder receber esses
grandes eventos e isso tem um impacto direto no mercado imobiliário",
diz, citando investimentos como a expansão do metrô até a Barra da
Tijuca, na zona oeste, e a política de segurança pública das Unidades de
Polícia Pacificadora (UPPs), que buscam expulsar o tráfico armado de
favelas.
"O momento é inedito, nada se compara. A Judice está há
36 anos no mercado (fluminense) e nunca vimos um momento tão bom no
Rio. Desde que o Rio deixou de ser capital, ficou meio largada durante
muitos anos, e agora vem retomando uma posição mais forte." O imóvel
mais caro que a empresa oferece no Rio no momento é um apartamento de
1.600 metros quadrados na praia de Ipanema, à venda por R$ 64 milhões.
Para José Conde Caldas, presidente da Associação de Empresas Dirigentes
do Mercado Imobiliário (Ademi), o mercado carioca está passando a ser
um mercado nacional e até internacional, atraindo compradores de outros
estados e também de fora do país. "O Rio hoje é a bola da vez. Muita
gente quer voltar a morar na cidade. Isso existiu no passado, nos anos
1960, quando o Rio era muito procurado. Mas depois veio uma sucessão de
maus governos e as pessoas queriam ver o Rio de costas."
Conde
Caldas, que é dono da construtora Concal, diz ter presenciado um exemplo
desta tendência dois anos atrás, quando lançou um empreendimento de
luxo de frente para a praia de Ipanema, com seis apartamentos de a
partir de R$ 7 milhões cada. Quatro deles foram comprados por pessoas de
fora da cidade. "Eu quis conhecer os compradores para saber por que
estavam comprando no Rio. Eram pessoas com negócios que estavam indo
muito bem e queriam comprar o apartamento como investimento, e para ter
uma casa de veraneio no Rio", conta.
Internacionalização
O segmento de casas,
apartamentos
e coberturas com cifras na casa dos milhões se beneficia de fatores
como a queda de juros, o maior acesso a crédito, a economia aquecida e a
grande visibilidade do Brasil diante da Copa e da Olimpíada de 2016,
lista Judice Araujo. Ele observa que o mercado também vem sendo
impulsionado pelo aumento do poder aquisitivo de partes da população.
"Vemos o crescimento da classe média, mas também a subida da classe
média para a média alta e a classe alta prosperando. Isso tem um impacto
positivo no mercado de alto padrão. Vemos nitidamente que mais pessoas
têm tido condições de comprar um imóvel maior ou uma segunda moradia de
veraneio", diz Judice Araujo.
A empresa é a afiliada no Rio da
Christies International Real State, braço imobiliário da casa de leilões
que entrou no Brasil em 2007. No ano seguinte foi a vez da Sothebys
International Realty, da casa de leilões rival, também britânica, que
estabeleceu escritório em São Paulo.
A entrada de ambas no mercado nacional reflete o maior interesse internacional por imóveis de alto padrão
no país. Mas seu crescimento vem sendo impulsionado pela demanda
interna, afirma o diretor da SIR no Brasil, Fábio Rossi, que tem planos
de triplicar as vendas da empresa nos próximos três anos, a partir da
descentralização.
A empresa atualmente tem escritórios em São
Paulo e Porto Alegre. Nos próximos três anos, a meta é abrir escritórios
em 15 cidades de médio porte no Brasil. "Vamos para 15 cidades com
população acima de dois milhões de habitantes, nas quais identificamos
potencial de mercado para esse segmento. A nossa meta é ter vendas da
ordem de R$ 1 bilhão no Brasil nos próximos três anos", diz Rossi.
A empresa vem apresentando crescimento de 15% ao ano, diz Rossi, e 95%
das vendas são para brasileiros. Mas o interesse de compradores
estrangeiros no país vem aumentando, diz Rossi, que acredita que o
mercado de luxo no Brasil caminha para uma maior internacionalização.
"Em cidades como Nova York, Milão e Londres, os estrangeiros chegam a
representar 30% do mercado, o que mostra que temos um grande potencial
de crescimento no Brasil", diz.
De acordo com Rossi, a procura
de imóveis de alto padrão aumentou também entre investidores, tendência
que atribui às turbulências na economia mundial após a crise financeira
de 2008.
"O mercado imobiliário se mostrou como o lugar mais
seguro e como o melhor investimento. Algumas ações viraram pó, o imóvel
não. O imóvel bem localizado, de luxo, subiu de preço. Todo mundo fala
que o mercado imobiliário americano está caindo, mas em Nova York, em
frente ao Central Park, os preços continuam subindo. A Grécia está
quebrada, mas o imóvel de luxo lá está mais caro", exemplifica.
Descentralização
Rio e São Paulo são os principais mercados para empreendimentos
milionários, mas o aumento da procura no Nordeste tem sido substancial,
afirma Francisco Próspero, diretor executivo da Ins no Brasil. A empresa
portuguesa atua no Nordeste há dez anos, com sede em Fortaleza, e em
2010 tornou-se afiliada da Christies International Real State. O
faturamento vinha crescendo em 20% ao ano, e no ano passado superou os
30%.
Até três anos atrás, Próspero diz que o público-alvo da
empresa eram sobretudo europeus, como alemães, ingleses, italianos e
nórdicos. Hoje, os brasileiros ultrapassaram os estrangeiros e são
responsáveis por cerca de 60% das vendas da empresa.
"Com o
crescimento da economia no Brasil, as pessoas aqui estão com uma maior
capacidade financeira, ao contrário do que ocorre na Europa, dado o
contexto internacional da economia", diz. "São compradores do Nordeste,
São Paulo, Brasília, Pará, tanto pessoas que compram como uma segunda
residência para passar férias ou como um investimento", diz.
De
acordo com Próspero, o portfólio da Ins tem cerca de 250 imóveis de alto
padrão nos estados que representa – Ceará, Maranhão, Piauí e Pará. "São
coberturas com piscinas nas capitais, apartamentos de mil metros
quadrados em condomínios de luxo com vista para o mar, casas de praia,
fazendas de recreio com cavalos e lagos", exemplifica.
Os preços
dos imóveis de alto padrão nesses estados variam de R$ 1 milhão a R$ 8
milhões, estima Próspero. Já no Rio, o patamar é bem mais alto.
No Rio e em São Paulo, o valor dos imóveis é puxado para cima pela falta
em bairros cobiçados onde não há espaço para novas construções e
escassos lançamentos imobiliários. Mas a alta de preços não assusta as
empresas que atuam no setor. Afiliada da Christies em São Paulo, a
Coelho da Fonseca teve crescimento de 35% em 2011 e tem meta de
crescimento de 50% para este ano.
Segundo Fernando Sita, diretor
geral de vendas da Coelho da Fonseca, a redução da taxa de juros e o
maior acesso a crédito também vem estimulando a compra de imóveis pela
classe AA.
"Há quatro anos era impensável você vender um imóvel
de alto padrão financiado, mas hoje isso está se tornando uma coisa
habitual. O rico opta por comprar um imóvel caro, mas fica com seus
recursos em mãos para ter liquidez, e pega um empréstimo de 70% ou 80%
do valor", diz.
Publicado por BBC Brasil