terça-feira, 23 de agosto de 2011

Falta de escritórios causa disputa de empresas por prédios em construção

Mesmo com a previsão de entrega recorde de novos edifícios em 2011, preços de escritórios de alto padrão nunca estiveram tão altos
A construção de escritórios de alto padrão em São Paulo deve aumentar em 90% este ano, atingindo o recorde de 287 mil metros quadrados, segundo a consultoria Cushman & Wakefield. Mas o novo estoque já chega com destino carimbado: diante da escassez de escritórios de alto padrão – especialmente na Faria Lima e Avenida Paulista -, as empresas se movimentam cada vez mais cedo para garantir espaço físico para sua expansão.
De acordo com Adriano Sartoni, diretor de locação da CB Richard Ellis, os contratos de novos edifícios começam a ser negociados pelo menos um ano antes da conclusão das obras civis. Ele cita o edifício Pátio Malzoni, que deve ficar pronto no fim do ano, mas tem 75% dos locatários definidos. “A ideia é ter 100% dos espaços locados até a inauguração”, explica. “As empresas de grande porte representam 70% desse mercado. Elas tomam a decisão antecipada para eliminar o risco no longo prazo.”
Como a escassez de espaço de qualidade é resultado de anos de baixa expansão da área de escritórios, a taxa de vacância desses imóveis segue em queda mesmo com as novas entregas. A Cushman & Wakefield diz que o total de espaços vagos em prédios “classe A” nos principais bairros de São Paulo ficou em 9% no segundo trimestre de 2011, ante 9,9% de igual período do ano passado. E os preços nunca estiveram tão altos: segundo a consultoria, o valor médio por metro quadrado em São Paulo ficou em R$ 107, 20 no segundo trimestre, alta de 22% em relação a 2010.
Cofres cheios. Segundo especialistas em mercado imobiliário ouvidos pelo Estado, o cenário do segmento de escritórios “classe A” não deve mudar nos próximos anos: preços e ritmo de construção devem seguir aquecidos. Em 2012, a previsão é que mais de 400 mil metros quadrados sejam entregues em São Paulo, informa a Cushman & Wakefield. Essa espécie de “boom” construtivo se explica pelo fator crédito: há financiamento barato disponível no mercado e os fundos de investimento imobiliário – que reúnem o dinheiro de brasileiros e estrangeiros interessados na renda futura com a locação – nunca estiveram com os cofres tão cheios.
De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o patrimônio dos fundos superou a marca de R$ 11 bilhões no fim de junho – uma evolução de 57% sobre os R$ 7 bilhões contabilizados no fim do ano passado. A incorporadora Tishman Speyer, por exemplo, administra R$ 2 bilhões captados no exterior.
Com dinheiro disponível, o presidente da Cyrela Commercial Properties (CCP), Roberto Perroni, explica que os terrenos são hoje o maior gargalo para a aprovação dos projetos. Ele diz que as áreas mais lucrativas têm poucos terrenos que permitem a construção de edifícios de pequeno porte.
Um dos projetos que a CCP está envolvida atualmente é a polêmica Torre Matarazzo, na Avenida Paulista. O empreendimento inclui um shopping center e uma torre de conjuntos comerciais. Segundo Perroni, é o primeiro novo edifício de escritórios de alto padrão a surgir na região em anos. Por isso, a CCP tem a perspectiva de conseguir cobrar pelo ativo os mesmos preços de locação praticados na Faria Lima. Hoje, o preço médio do metro quadrado na Paulista está em R$ 114,90, contra R$ 142,50 da Faria Lima, aponta a Cushman & Wakefield.
A gerente de pesquisa de mercado da Cushman, Mariana Hanania, afirma que o mercado está longe de um “ponto de equilíbrio”. Isso ocorre quando cerca de 15% dos espaços estão vagos – neste patamar, as empresas têm boas opções a escolher, enquanto as administradoras ainda conseguem lucrar com a operação. No entanto, mesmo com o novo estoque, a situação do mercado não deve mudar, na prática. “Um edifício só sai da lista de vacância quando a empresa efetivamente se instala nele. Hoje, porém, as empresas fazem a pré-locação pelo menos seis meses antes do fim da obra.”
A prova de que hoje o mercado é do locador – em detrimento do locatário – é a estrutura dos contratos mais comuns hoje no segmento. De acordo com Daniel Cherman, presidente da Tishman Speyer – que pretende entregar dois prédios que somam cerca de 90 mil metros quadrados de área até julho de 2012 -, a maior parte dos contratos com empresas é firmada por um período de cinco anos. No entanto, além da correção anual pelo IGP-M, fica garantida também uma adequação do valor de locação aos preços praticados no mercado a cada três anos.

Publicado por "O Estado de São Paulo"
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