Conheça o perfil de quem procura imóveis de um quarto, tipo cada vez mais popular na cidade de São Paulo.
Os apartamentos de apenas um dormitório estão cada vez mais populares
na cidade de São Paulo. De acordo com o balanço do primeiro semestre do
mercado imobiliário paulistano, publicado pelo Secovi-SP, os imóveis de
um quarto ficaram em segundo lugar tanto entre os mais lançados quanto
entre os mais vendidos, superando os apartamentos de três quartos. A
mudança no estilo de vida da população é um dos fatores que explicam
esse boom, mas os investidores também ficam de olho nessas unidades.
Segundo o boletim do Secovi-SP, foram lançadas 3.600 unidades de um
dormitório na cidade de São Paulo no primeiro semestre, quantidade que
perde apenas para as 5.700 unidades de dois quartos lançadas no período.
Em terceiro lugar vieram os imóveis de três quartos, com 3.300 unidades
lançadas.
A procura dos compradores também é grande. Foram vendidas 4.100
unidades de um quarto no primeiro semestre, perdendo apenas para as
7.800 unidades de dois quartos vendidas no período. De imóveis de três
quartos foram vendidas 3.800 unidades.
Quem são os compradores?
Segundo Stefan Neuding Neto, vice-presidente executivo da Stan
Desenvolvimento Imobiliário, incorporadora que costuma desenvolver
empreendimentos com unidades compactas, quem procura esse tipo de imóvel
são basicamente três tipos de compradores: os investidores, que
pretendem auferir renda com o aluguel da unidade; os casais sem filhos
que compram seu primeiro imóvel; e os solteiros e divorciados que buscam
viver sozinhos.
Para quem compra para alugar, como investimento, o apartamento de um
quarto é, atualmente, o que oferece o melhor retorno, considerando-se o
custo do investimento. Segundo dados do Índice FipeZap, o retorno com
aluguel dos imóveis de um quarto na cidade de São Paulo estava, em
agosto, em 0,50% ao mês, contra 0,47% dos de dois quartos e 0,44% dos de
três ou mais quartos. Lembrando que essa rentabilidade é corrigida
anualmente pela inflação.
Do lado de quem compra para morar, os apartamentos de um quarto
acabam servindo a uma nova face da população brasileira: as famílias que
encolheram, o maior número de idosos (viúvos ou cujos filhos já saíram
de casa) e o crescente número de pessoas que vivem sozinhas.
A boa localização dos novos empreendimentos é um dos apelos. Há
inclusive quem compre apartamento de dois quartos para transformar em um
imóvel de um quarto só. De acordo com Neuding, muitas vezes os casais
que compram o primeiro imóvel preferem ter uma sala maior, e fazem essa
conversão. Sua ideia é que o imóvel volte a ser um dois quartos quando o
primeiro filho chegar. “Assim o imóvel dura mais. Se a ideia for
vendê-lo, o de dois quartos tem maior liquidez”, diz Neuding.
Outro possível atrativo é o preço. Apesar de ter o metro quadrado
mais caro que as unidades de mais quartos, os apartamentos de um
dormitório são compactos, e muitas vezes têm preços unitários mais em
conta.
Segundo o Secovi-SP, a área útil média dos imóveis de um quarto em
São Paulo caiu 22% de 2004 para 2013, de 52,4 metros quadrados para 40,7
metros quadrados. Os de dois e três quartos permaneceram praticamente
com a mesma área útil média: de 60,6 para 59,6 metros quadrados no caso
dos imóveis de dois dormitórios, e de 90,2 para 91,2 metros quadrados,
no caso dos de três dormitórios.
Segmento de luxo desponta
Mas a média dos preços unitários dos apartamentos de um quarto no
primeiro semestre foi maior que a média de preços dos apartamentos de
dois quartos. De acordo com Luiz Paulo Pompéia, diretor da Empresa
Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), isso se deve a uma
recente onda de lançamentos de imóveis de um quarto para o segmento de
luxo, o que puxa os preços para cima.
Número de quartos |
Preço do m2 da área útil (R$) |
Preço da unidade (R$) |
1 |
11.106 |
447.500 |
2 |
6.789 |
402.000 |
3 |
7.554 |
685.000 |
4 |
9.717 |
1.784.000 |
Fonte: Embraesp
Pompéia explica que os lançamentos desse tipo de imóvel vêm ocorrendo
de 2007 para cá, pressionando o preço do metro quadrado das unidades de
um dormitório. Os imóveis de um quarto voltados para o segmento de luxo
são invariavelmente bem localizados, mas nem sempre são compactos, o
que também contribui para puxar o preço total da unidade para cima.
O diretor da Embraesp cita o exemplo de um lançamento na Vila
Madalena, Zona Oeste, com um dormitório e área útil de 127,30 metros
quadrados, por quase 2 milhões de reais a unidade. “Trata-se de uma
grande suíte e uma área social ampla para receber visitas”, explica
Pompéia.
O contraste com os imóveis de dois quartos se deve ao fato este
produto ser mais voltado para a classe média, enquanto que os
apartamentos de um quarto de médio e alto padrão são voltados para o
público de alta renda. “Na minha opinião, esse nicho do alto padrão
ainda vai oferecer boas oportunidades durante algum tempo. Embora a
oferta venha aumentando, os lançamentos desse tipo de imóvel ainda são
poucos frente à demanda”, diz Pompéia.
Ainda há boa demanda
Mas, para Pompéia, o mercado é promissor não só para os imóveis de
luxo, como para os apartamentos de um quarto como um todo. Ele explica
que além do segmento de alto padrão, o segmento médio e o popular (os
substitutos das quitinetes) também assistem a alta demanda e escassez de
oferta, embora haja lançamentos em todas as faixas e por toda a cidade
de São Paulo.
“O imóvel de um quarto é um produto procurado por todas as fatias de
público. Acredito que ainda haverá uma boa demanda, mesmo fora do
segmento de luxo, e até em locais com perfil mais popular. Por enquanto
não vislumbro superoferta desse tipo de imóvel na cidade de São Paulo”,
observa Luiz Paulo Pompéia.
Julia Wiltgen
Publicado por Exame.com